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Financiamentos bancários na pandemia: especialista ensina a escolher o melhor tipo para a sua empresa

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Com a pandemia do novo coronavírus, muitas empresas têm tido a necessidade de buscar financiamentos bancários para se manterem ativas durante a crise. É que a Covid-19 provocou graves consequências na economia mundial. Com estabelecimentos comerciais, restaurantes e bares fechados durante o isolamento social, o consumo caiu e empresários ficaram sem fonte de renda para assegurar o salário dos funcionários, manter os estoques, pagar fornecedores, entre outros custos e despesas operacionais.

Mas como descobrir o tipo de financiamento que melhor atende à situação da sua empresa? Por onde começar? As taxas de um financiamento mudam de acordo com o banco, com o gerente ou com a data do pedido?

Para ajudar os empresários na missão de bancar a continuidade de seus negócios, Claudio Nasajon, fundador da Nasajon Sistemas, conversou com a contadora Tatiana Carvalho, especialista em financiamentos bancários para pequenas empresas, sobre as linhas de crédito disponíveis para enfrentar a pandemia, incluindo taxas, carências e exigências de cada uma. No bate-papo, contado neste artigo, você também pode conferir um passo a passo para obter o financiamento e descobrir como evitar as armadilhas mais comuns.

Quais são as linhas de crédito disponíveis durante a pandemia

De acordo com Tatiana, há três linhas de crédito disponíveis hoje: o capital de giro, a linha de folha de pagamento e o Pronampe, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. O programa da Caixa Econômica Federal, que teve início em maio e oferece empréstimos com limites de até 30% da receita anual de 2019, tem sido o protagonista do momento em meio a crise. Na última semana, a Caixa anunciou que o banco tem mais de R$ 5 bilhões pré-aprovados para o programa.

Para um empresário que precisa arcar com diversos custos ao mesmo tempo, como pagamento de salários e compra de equipamentos, surge a primeira dúvida: é mais vantajoso pegar um financiamento só ou, para cada despesa, solicitar um financiamento diferente? “Avalie tudo que é preciso pagar, porque uma linha de crédito de folha de pagamento, por exemplo, não vai conseguir ajudar em outros campos. Com um capital de giro ele até vai conseguir direcionar o valor, mas em todas as situações, a melhor forma de se chegar ao dinheiro que o empresário precisa é saber em que se vai empregar. O interessante é fazer uma análise criteriosa”, recomenda a especialista.

Capital de giro: linha de crédito é vantajosa para clientes com boas relações com o banco

O capital de giro, de acordo com Tatiana, é a linha de mercado que os empresários mais utilizavam, e que conta com uma taxa de juros às vezes expressiva ou não. “Ela retornou com força na pandemia e as empresas estão tendo essa possibilidade. Hoje, o banco Bradesco, por exemplo, está praticando uma taxa de 6,66%. Não é a taxa total, mas é uma das taxas”, explica.

Ela ressalta, ainda, que o capital de giro está totalmente voltado para o perfil do cliente. “Um empresário que criou uma boa linha de relacionamento com o banco dele é um empresário que tem uma taxa melhor, que consegue uma linha melhor de crédito, até mesmo em relação à carência e ao prazo de pagamento. Então, dentro de um perfil de cliente, há taxas que variam de 1% até 6% no final. Uma linha de capital de giro para não clientes tende a ter uma taxa de juros maior”, explica.

Folha de pagamento: taxas do empréstimo são mais baixas

No empréstimo para folha de pagamento, as taxas são mais convenientes: os juros são a partir de 3,75% ao ano. “Normalmente, pede-se esse empréstimo ao banco pagador, o seu banco de folha, porque é um giro já direcionado ao cliente daquele banco. Ele já usa o sistema do banco para agendar seu pagamento, então automaticamente se cria uma relação com essa folha. É muito difícil pegar um crédito para folha de pagamento em um banco cujo o empresário está iniciando um relacionamento”, indica Tatiana.

Outra vantagem deste tipo de linha é que o contrato é ajustado. “Em caso de não uso do valor todo, você vai devolver. O banco vai, automaticamente, fazer o ajuste deste contrato, e você paga o que usou para gerenciar a folha”, esclarece.

Pronampe: linha de crédito favorece micro e pequenas empresas

O terceiro tipo de linha é o Pronampe, que tem foco nos microempresários porque, segundo especialista, quase 70% do mercado brasileiro é voltado para as microempresas. O programa do governo federal é bastante acessível em relação à taxa de juros. “Estamos falando de juros pós-fixado, com uma taxa de 1,25%, com um Selic de 2,25%.

As inscrições são feitas pelo site da Caixa Econômica Federal. “Automaticamente, o site pede para abrir uma conta na Caixa. Então, ele envia a relação de documentos, que é a documentação tradicional para uma abertura de conta, ou seja, o contrato social e os documentos pessoais dos sócios. Depois, o banco vai pedir a declaração de faturamento do ano, para fazer a primeira rodagem de linha de crédito. É o momento em que o banco libera o cartão de crédito, o cheque especial e, às vezes, um capital de giro pequeno. Ele vai apresentar um leque de opções que, se você não souber como lidar, vai se endividar”, alerta a contadora.

Além do Pronampe, o banco do governo federal oferece outras linhas de crédito para micro e pequenas empresas, como o Crédito Assistido Sebrae, amparado pelo Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas, o Fampe.

Descubra se vale a pena usar o cheque especial na pandemia

Em momentos de escassez financeira, muitos empresários recorrem ao cheque especial, mas a contadora alerta que o recurso não é uma boa opção. “A taxa de juros é altíssima. Dependendo do perfil do empresário, ele vai querer usar o cheque especial e vai esquecer que precisa cobri-lo. Tenho clientes que trabalharam no cheque especial por oito meses, e foi uma luta para tirarmos. Precisei conversar com o cliente diariamente e demonstrar que a cada dia no cheque especial ele gastava mais dinheiro”.

Para os empresários que já estão endividados, a contadora recomenda solicitar um empréstimo de curto prazo para cobrir o cheque e, depois, pagar o empréstimo. “Dependendo dos juros praticados no cheque especial, em um empréstimo de curto prazo será a metade”.

Linha de crédito e banco escolhidos: qual é o próximo passo?

Após fazer o planejamento dos custos a serem pagos pela empresa, escolher a linha de crédito e o banco, o próximo passo é buscar os gerentes mais bem relacionados à própria empresa, para conferir quais são as exigências do banco. “O padrão dos bancos hoje, na pandemia, é a abertura de conta com um primeiro depósito. Depois, o gerente vai tentar fazer algum produto de 12 meses, nem que seja um seguro que custe R$100. É o primeiro start de relacionamento. Dali, o gerente já começa a ver as suas linhas de crédito. Você já vai ter em mente o que precisa e ele vai fazer esse caminho com você, examinando tudo”, explica.

Aprenda a administrar o prazo para pagar o financiamento

Entender o momento certo de começar a pagar o financiamento também é importante. “Atualmente, a maioria dos bancos está estimulando um prazo total de 36 meses para capital de giro dentro de um período menor e um prazo de 90 dias de carência. Lembrando que com 90 dias de carência há também o cálculo do juros neste período. Tem que avaliar se vale a pena jogar 90 dias pra frente ou se o empresário faz o plano estratégico de pagamento do financiamento para 30 dias”, aconselha.

O prazo para pagar o financiamento também depende do perfil do cliente e do relacionamento que o empresário tem com o banco. “Um cliente que já tem folha de pagamento alocada no banco, um relacionamento estreito em relação à seguro de funcionários, ou já tem o costume de transitar com o seu recebível nesse banco, pode ter essa carência e uma diminuição da taxa de juros bem expressivas”, explica a contadora.

Descubra a melhor data do mês para pedir um financiamento

Segundo Tatiana, os últimos dias do mês são mais vantajosos para solicitar um empréstimo. “Entre os dias 20 e 30 é um bom momento, porque se o gerente não conseguiu bater a meta, ele vai oferecer as melhores condições. Um empréstimo é uma meta legal a ser batida. O início do mês é mais complicado porque o gerente, além do fluxo normal, tem o fluxo das folhas que são administradas”, explica.

Bom relacionamento com o banco pode melhorar taxas do financiamento

O sistema do banco, com as regras e os valores das taxas, é o mesmo, o que muda é, novamente, o relacionamento com o gerente. “Você cria uma relação para tentar as melhores taxas. Se ele não conseguir melhorar a taxa de uma maneira robusta, vai ver onde consegue mexer, como por exemplo nas tarifas que são colocadas nesse meio ou em outras taxas, até mesmo na própria taxa administrativa daquele contrato”, explica a contadora.

Documentos faltantes são um dos erros cometidos pelos empresários

É importante solicitar o financiamento junto ao contador da empresa, que irá separar os documentos da maneira correta. Mas, se o empresário decide fazer o processo por conta própria, a especialista alerta para os erros que podem acontecer. “Um exemplo clássico é o contrato social. Hoje, a gente gera o contrato social junto ao comercial, que tem laudas iniciais colocadas pela junta. Se enviar o contrato ao banco sem ela, volta para o final da fila, porque o banco vai ter que mandar um e-mail solicitando o contrato completo. Um documento com escaneamento ruim também retorna o processo do empresário para o final da fila”.

Aprenda a fugir de pegadinhas ao assinar um financiamento bancário

Para não cair em pegadinhas e assinar o financiamento mais vantajoso, a especialista recomenda conter a emoção. “Você vai estar na emoção de querer o financiamento e pode avaliar mal a taxa de juros. É aquele asterisco com a letra miúda que a gente tem que evitar. É importante ler o contrato”. Segundo ela, um exemplo clássico de pegadinha tem relação com a carência. “Ganhou carência de 90 dias para pagar. A prestação, por exemplo, é R$100 mil, com um juros no capital de giro, hoje, de 6,6%. Você vai pagar R$12.088, aproximadamente, se você pagar no mês seguinte. Mas, se você pagar em dois meses, estamos falando de uma prestação de R$12.390. Entre os R$390 e R$88, vai valer a pena no final?”, adverte.

Por Beatriz Doblas.


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