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Contabilidade gerencial: a interpretação da dança de números como ferramenta para lidar com a crise

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ICMS, ISS, IRPJ, PIS, COFINS: é grande a sopa de letrinhas quando falamos de obrigações fiscais, sem contar com as acessórias, como NFC-e, ECD, EFD e tantas outras siglas que mergulham nosso sistema de contabilidade e os profissionais nesse arcabouço de burocracias para atender sobretudo ao fisco e suas tantas demandas.

Falta fôlego para interpretar o que os números estão querendo contar a respeito da situação financeira e patrimonial de uma organização, bem como quais podem ser as melhores estratégias para tornar o negócio mais eficiente e rentável.

Com a pandemia do novo coronavírus, instalou-se uma nova crise. Nesse momento de dificuldades operacionais e financeiras, as empresas precisam diminuir os custos, muitas vezes enxugar o quadro de funcionários sem alterar a qualidade do serviço, entre outras ações. E a contabilidade gerencial pode ser útil a executivos e gerentes para indicar o melhor trajeto a seguir.

O que é contabilidade gerencial e a principal diferença do modelo tradicional

Enquanto a contabilidade convencional busca atender às exigências fiscais, contábeis e societárias de um negócio, a contabilidade gerencial é voltada para dentro, abastecendo os gestores e colaboradores com relatórios que ajudam a melhorar o desempenho da empresa. O alvo está na disponibilização de informações relevantes, com fulcro nos dados da contabilidade financeira para embasar e nortear as decisões mais importantes e que impactarão diretamente no resultado.

Os principais objetos da contabilidade gerencial são: relatórios, análises e demonstrativos com foco no embasamento dos processos decisórios de gestores, administradores ou do proprietário da empresa.
Com isso, resta avaliar que ambos são indispensáveis e a relevância de um não se sobrepõe em detrimento do outro.

A importância da contabilidade gerencial em momentos de crise

Empresas experimentarão um cenário de recessão mais significativo que a Grande Depressão de 1929

Para além de toda essa responsabilidade fiscal, estão os administradores das organizações ávidos por tornarem as organizações mais sólidas, eficientes e lucrativas, perseguindo metas desafiadoras. Além disso, são ainda pressionados pela concorrência, solavancos do mercado e, recentemente, com destaque de absoluta relevância, os desafios econômicos de uma pandemia sem precedentes que paralisou cadeias produtivas e de consumo. A pandemia impôs para grande parte do mercado a necessidade vital de controles rígidos das despesas e custos e a capacidade de gestão administrativo/financeira para reescrever estratégias e definir rotas.

Vale destacar que os fatores externos não podem ser controlados, ou seja, não controlamos o surgimento de uma crise financeira, independentemente dos motivos de origem, mas todos os fatores internos são controláveis, desde que os dados da contabilidade sejam convertidos em informações relevantes como base das decisões. Sejam elas acertadas ou equivocadas, mas o papel da contabilidade gerencial é indicar o trajeto.

Correção de possíveis decisões equivocadas com indicadores da contabilidade gerencial

Por conceito, já ficou consignado que a contabilidade gerencial analisa os dados publicados na contabilidade financeira. É exatamente no sentido de cruzamento de dados e interpretação dos números, através de relatórios originados na contabilidade gerencial, que possíveis distorções podem ser evitadas, redirecionando as decisões para aumento na lucratividade ou mesmo manutenção da saúde financeira do negócio.

Alguns exemplos:

  • Suponha que determinada empresa receba um aporte financeiro e, sem consultar os relatórios gerenciais, resolva ampliar o parque fabril para aumentar em 30% a produção de um determinado produto de venda. Ocorre que essa ação isolada poderá não resultar exatamente em um aumento de vendas. Sem um estudo de competitividade para mensurar seu desempenho, baseando-se no índice operacional de Rotação do Estoque (RE) que pode demonstrar um giro baixo e que o mero aumento de produção trará custos operacionais ao invés de resultados positivos.

É fato que, no exemplo, a contabilidade financeira aponta recursos para investimento em virtude de um aporte financeiro, contudo, o ponto central é identificar o melhor lugar para alocar estes recursos, objeto de análise da contabilidade gerencial.

  • Um segundo exemplo sugere que, diante da necessidade de alavancar os resultados, determinada empresa comece a oferecer um serviço com um prazo maior para recebimento, ou seja, para se tornar mais competitiva no mercado, resolve conceder mais prazo para que os seus clientes paguem pelos serviços prestados. É evidente que esse pode ser um bom caminho, mas será que é o único e, principalmente, o melhor?

A decisão de extensão de prazo para recebimento deve ser submetida aos estudos elaborados pela contabilidade gerencial, considerando os índices de PMP (Prazo Médio para Pagamento) e o PMR (Prazo Médio para Recebimento) para avaliar se o fluxo financeiro da empresa será afetado de forma negativa tal, impondo a incapacidade de honrar com os seus pagamentos a fornecedores. O resultado desse estudo pode ser positivo, demonstrando que a empresa poderá adotar prazos mais generosos para recebimento sem deixar de cumprir com suas obrigações de pagamentos, entretanto, sem analisar gerenciamento e atirar no escuro tentando acertar um alvo.

Crise atual é a maior recessão desde a Grande Depressão de 1929

É possível que os executivos deste século que se mostrem bem-sucedidos nas estratégias adotadas para manter ou até maximizar os lucros e a saúde financeira das organizações sejam reconhecidos como grandes estrategistas do seu tempo.

Outras crises foram experimentadas, com maior ou menor dor, por administradores e executivos de empresas. O Jornal Gazeta do Povo, em sua publicação de 14/09/18, relaciona as cinco grandes crises econômicas que abalaram o mundo. A primeira foi a de 1929, após a Primeira Guerra Mundial, que nos três anos seguintes registrou queda no PIB mundial de 15%.

Só nos Estados Unidos, a produção industrial encolheu 46% entre 1929 e 1932, e o desemprego chegou a 25%. Contudo, a crise atual está se apresentando como a maior recessão desde a Grande Depressão de 1929, conforme afirmação do FMI – Fundo Monetário Internacional.

Voltamos para alusão de guerra, que coloca o termo estratégia como uma designação abrangente para o planejamento de atuação. O reconhecimento do inimigo – que nos tempos atuais é a crise financeira acentuada pela pandemia -, o planejamento e o investimento em tecnologia são notadamente posicionamentos que ajudarão as empresas a resistirem saudáveis.

Em tempos de Guerra – Tecnologia e Estratégia!

Não se pode negar a importância de cumprir os prazos e de buscar a exatidão nas informações fornecidas. Por isso, os contadores contemporâneos cada vez mais recorrem à inteligência artificial e toda a tecnologia disponível para minimizar a quase zero o risco de serem penalizados pelos órgãos reguladores e incorrerem em gastos com multas e sanções que possam prejudicar a rentabilidade e até a continuidade de negócios que estão sob a sua responsabilidade fiscal.

Não à toa o seguro de responsabilidade civil profissional existe para proteger e reembolsar as quantias pelas quais os segurados vierem a ser responsáveis civilmente, por danos involuntários materiais ou corporais causados a terceiros. Esta modalidade de seguro é conhecida como E&O, de Erros e Omissões – do inglês Errors & Omissions – e ganha espaço no mercado brasileiro.

São nas crises que as empresas precisam diminuir os custos com foco em manter a lucratividade, reduzir despesas mantendo a produtividade, enxugar o quadro de funcionários sem alterar a qualidade do serviço entregue na ponta, enfim, desafios que sempre estiveram presentes, mas que passam a determinar, em alguns casos, a subsistência dos negócios diante de uma escassez mais severa de recursos.

Contabilidade Gerencial: a bússola para as melhores estratégias

A contabilidade gerencial, como valiosa ferramenta, cumpre seu papel em fornecer informações relevantes à alta administração, tais como planejamento estratégico, mapa de redução de custos e, sobretudo, norte para aumento da lucratividade.

As técnicas da contabilidade gerencial resultam em mapas que direcionam as decisões da empresa com base em dados pragmáticos, afastando sensações ou interpretações pessoais que nem sempre – ou quase nunca – apontam os melhores caminhos para decisões estratégicas porque não estão fundamentadas em números reais.

Por Thiago Martins.


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